Rogerio Skylab
já nasceu ruína e ruína sempre
será. Há mais de 20 anos na carreira musical, o artista encarna o
espírito underground na essência mais pura. Ele sabe bem como é ser uma sombra solitária que perambula pelas ruas movimentadas do Rio de Janeiro.
Carioca e funcionário público aposentado do Banco do Brasil, onde trabalhou por
27 anos, o músico apresenta uma temática urbana multifacetada
em sua obra. Não lhe escapa a artificialidade científica da cidade grande - a
ode ao travesti, importante personagem da modernidade; o retrato do caos cinzento
e violento dos dias atuais; assim como o macabro e o escatológico.
Skylab herdou o apelido de uma composição
própria, Samba do Skylab, que foi o ponto inicial de sua carreira. E o nome não poderia ter lhe caído melhor. O músico assume o papel de um cientista que faz as mais absurdas experiências no seu laboratório com as cobaias globais Fátima Bernardes e Glória Maria na canção "Fátima Bernardes Experiência", por exemplo. Nem mesmo personalidades como Chico Xavier e Jesus Cristo são poupados da saga.
Skylab ganhou notoriedade após ser entrevistado por Jô Soares ainda no SBT. Sua personalidade ímpar e polêmica fizeram com que ele fosse convidado ao programa repetidas vezes, sempre lançando novos discos. Fascinado pela ideia de série, após lançar o álbum de estreia, Fora da Grei, em 1992, o músico deu início à "série dos Skylabs". E logo no lançamento do Skylab I, em 1999, revelou que encerraria a saga no álbum Skylab X, lançado em 2011.
Rogerio Skylab e Eliza Schinner |
No primeiro álbum da série, Rogerio compôs várias canções com letras imensas que remetiam ao trash macabro. Nesse disco foi lançada "Matador de passarinho", sua obra mais conhecida. Trata-se de um samba que faz paródia com a música "Passaredo", de Chico Buarque. Com o passar dos anos, cansou dos longos textos e passou a escrever letras curtas, algumas de apenas um verso como "Eu tô pensando", do Skylab V.
Skylab é muito performático em cima dos palcos. Seu estilo irreverente e suas letras violentas ao mesmo tempo que assustam a plateia, também a faz gargalhar. Apesar dessa reação do público, o músico reitera que não compõe para fazer as pessoas rirem e tampouco se considera um artista cômico.
Chamar Skylab de completamente maluco é uma reação comum a quem o escuta pela primeira vez. Mas é aí que sua arte se demonstra plural. Ele quer chegar à loucura através da sobriedade. A repetição do versos e dos refrões, característica importante de seu trabalho, deixa o ouvinte conturbado, inconsciente, violentado.
Clipe da música Parafuso na cabeça (Skylab IV, 2003)
Não é exagerado dizer que Skylab é um dos principais e mais importantes músicos do cenário underground carioca. Com fortes influências de Frank Zappa e do samba carioca, Rogerio quer mesmo misturar tudo o que puder: experimental, barulho, valsa, rock, funk, seresta e o que mais couber. Skylab é agudo, sujo, cru e cruel. É uma porradaria gratuita. É underground. É putaria. É todo tipo de sexo imaginável. É punk e samba ao mesmo tempo. É genuíno. É ruína. É ninguém.
Escute:
Fátima Bernardes Experiência (Skylab V, 2005)
Eu fico nervoso (Skylab V, 2005)
Samba isquemia noise (Skylab VII, 2007)
Se tudo tá por um triz (Skylab X, 2011)
Skylab canta "O corvo" ao vivo no Programa do Jô
Desde 1991, o músico lançou 14 discos, todos eles independentes. Dois deles ao vivo (Skylab II e Skylab IX) e dois de projetos paralelos (Rogerio Skylab & Orquestra Zé Felipe e Skygirls). Skylab é formado em Letras, Filosofia e também é poeta. Seu livro "Debaixo das rodas de um automóvel" foi lançado em 2006.
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