Bruno Keleta, Felipe Genes, Marcelo Castilho e Brenno Quadros |
A banda Ganeshas está produzindo o segundo disco. Mas enquanto o disco ainda não fica pronto, o vocalista Brenno Quadros fala sobre como foi tocar na Cidade da Música, conta algumas curiosidades da banda, revela quais são os principais desafios de fazer parte de uma banda independente de rock e muito mais. Confira abaixo a entrevista:
Brenno Quadros |
BRENNO QUADROS: Nós queríamos gravar um vídeo com uma versão acústica de
Botando na Caçamba, valorizando mais o som do violão de aço e as hamonias de
voz. O problema é que ainda não sabíamos onde fazer essa gravação. Um dia eu
estava passando de carro na frente da Cidade da Música e pensei: por quê não
aí?
Uma possível crítica
social influenciou na escolha do lugar ou o objetivo da banda era apenas gravar
num local esteticamente belo?
A ideia é ser uma provocação mesmo. A Cidade da Música é um
elefante branco que há anos consome milhões de reais dos cofres públicos e
nunca ficou pronta. Estamos em época de eleições municipais no Rio de Janeiro,
em que o próprio filho do Cesar Maia está concorrendo. Acho bacana que o vídeo
levante uma discussão saudável sobre o destino dessa obra monumental.
A sonoridade da banda
remete muito à música nordestina de Raul Seixas, Luiz Gonzaga... São influências
em comum dos integrantes ou essa sonoridade se difundiu espontaneamente na
banda?
Apesar de a gente ser carioca, nunca tivemos muita ligação
com o samba. Eu sempre gostei mais de festa junina do que de carnaval. Sempre
ouvi mais Luiz Gonzaga que Noel Rosa. Às vezes as pessoas até me perguntam se
eu sou nordestino.
Como foi a experiência
de gravar o clipe da música Jesus através do crowfounding? Como vocês se
sentem por ser a primeira banda nacional a gravar um videoclipe por este
formato?
A iniciativa do crowdfounding já existe há um tempo nos
Estados Unidos e na Europa. O site movere.me veio pro Brasil e nos convidou pra
fazer um projeto de inauguração do site. A gente não sabia muito bem o que
fazer, se pedia dinheiro para gravar um disco ou outra coisa. Então tivemos a
ideia de gravar o clipe da música Jesus. A gente não tinha a menor ideia do
dinheiro que a gente ia precisar. Conseguimos arrecadar uma grana boa, apesar
de termos juntado boa parte da verba do nosso próprio bolso. Mas foi muito
bacana fazer isso. Vai ficar pro nosso currículo.
Ganeshas - Jesus
Apesar de jovens, a
banda já existe há mais de 6 anos. O que mudou de lá pra cá?
A formação mudou. Já tivemos duas trocas de guitarrista.
Anteriormente éramos 5 músicos, agora somos um quarteto. Queremos gravar um
segundo disco que seja muito melhor e mais profissinal que o primeiro, que
tinha ainda traços de amadorismo. Estamos tentando tornar as coisas maiores.
Vocês tem se
apresentado fora do Rio de Janeiro, no Multishow (Experimente), Globonews (Estúdio
i). Como estão sendo essas experiências?
É bom tocar na TV porque a gente precisa ficar conhecido. Aparecer
na TV é uma experiência muito boa porque dá uma visibilidade enorme para a
banda. Dá uma oportunidade de pessoas de tudo que é canto do Brasil nos
conhecer, pessoas que nunca ouviram falar em nós.
Qual foi o melhor
show que a banda já fez?
O melhor show foi no MADA, em Natal, em 2009. A gente tocou
lá como prêmio por ter ganho a última edição do concurso B de Banda, do Jornal
do Brasil. Nesse festival também tocaram bandas que a gente gosta muito como
Nação Zumbi, Pitty. Tava muito, muito cheio. A recepção no nordeste é muito
mais calorosa que no Rio. Aqui as pessoas ainda tem a postura um pouco blazê em
relação à bandas novas. Lá os shows são como acontecimentos. As pessoas pediam
autógrafo, puxavam nossas camisas, nosso cabelo. Tivemos um dia de Beatle. Nós
temos até um fan clube lá em Natal. Nós tocamos antes das atrações principais,
mas o público gostou tanto do show que três meses depois fomos chamados pra
tocar lá de novo.
Ganeshas - Botando na caçamba (Ao vivo - MADA, 2009)
E o pior?
Uma vez nós fomos chamados para tocar em Maricá numa
estrutura muito tosca, no meio do mato com um palco flutuante que ficava
boiando. O Felipe Genes (baterista) teve que escalar os amplificadores para
chegar até a bateria. A gente ficou com medo de morrer eletrocutado (risos). Depois
de analisar bem o lugar nós fomos falar com o dono que precisávamos ir até o
nosso carro pegar os equipamentos de som. Mas na verdade, só entramos no carro
e fomos embora. Nem chegamos a tocar. Já teve uma vez também, no começo da
banda, que a gente tocou num cartódromo logo antes de uma banda cover de
Slipknot. O show foi horrível porque o público tava esperando escutar um som
mais pesado, mais heavymetal. Que bom que conseguimos sair vivos de lá.
A música Rua Araucária
é trilha da websérie Quero ser solteira. A canção vai fazer parte do próximo
disco ela foi composta exclusivamente para a série?
Ela não foi feita pra série. Essa música ficou pronta um
pouco depois do lançamento do nosso primeiro disco. A diretora Cláudia Sardinha
pediu para a gente escrever uma música sob encomenda para ser a abertura da
série e nós apresentamos Rua Araucária para ela. Calhou de a letra fazer algum
sentido com o programa. Ela adorou o resultado.
Além do lançamento do
próximo álbum quais são os planos da banda para o futuro?
A nossa prioridade agora é exclusivamente produzir o disco.
Nós paramos até de fazer show. A gente deve se trancar num estúdio com um produtor
nos próximos 3 meses. Mas como consequência a gente deve fazer um clipe para puxar
alguma música do próximo álbum. Vai ser um repertório todo novo. Tirando Rua
Araucária, serão doze músicas novas.
Qual vai ser a
principal diferença do segundo disco do primeiro?
O mais importante é que ele vai ter um trabalho de produção
musical profissional. Quem vai fazer é o Luã Mattar, que ficou
5 anos em Boston estudando produção musical. Ele acabou de voltar e o primeiro
trabalho que ele quer fazer é o nosso disco. O primeiro disco foi produzido por
nós mesmos. A gente gosta das músicas, mas a produção resvala um pouco no
amadorismo. No primeiro álbum tem músicas que foram compostas quando eu tinha
16 anos de idade, como Jesus. O Bruno Keleta (guitarrista) compôs A máquina com
16 anos também.
Existe uma previsão
de lançamento?
A gente espera que o disco seja lançado até o fim do ano, ou
então no começo do ano que vem. Mas ainda estamos na pré-produção. O disco
ainda nem tem nome.
Marcelo Castilho e Brenno Quadros |
O que cada integrante faz quando não está tocando?
Na banda tem dois engenheiros formados, o Marcelo Castilho
(baixista) é formado em Publicidade, eu em Publicidade e Cinema. Cada um exerce
a profissão dentro da sua área, mas agora a gente vai dar uma parada com tudo
para focar totalmente no nosso próximo disco. Esse disco pode mudar os rumos da
banda.
Como você vê o
cenário musical independente do Brasil atualmente?
Não conheço tanta coisa, mas tem várias bandas que eu curto
como Los Bife, Dorgas, Tereza... O Terno se saiu muito bem no último VMB e isso foi muito animador para a gente. Estamos até vendo se conseguimos o
contato para tentar tocar com eles em São Paulo ou por aqui no Rio.
Que bandas atuais do cenário internacional a banda gosta de ouvir?
O pessoal da banda é viciado em Radiohead.
Eu até gosto, mas não tanto quanto eles. Curto o som do Jack White. Na verdade,
eu me acho um dinossauro de 24 anos (risos). Gosto de ouvir Buddy Holly, essas
coisas. Um dia desses ia comprar um cd da Florence The Machine, mas não estou
muito antenado nessas novidades todas. Preciso me atualizar (risos).
Quais são as
principais vantagens e desvantagens de ser uma banda independete?
A vantagem é você ter um controle maior da tua produção
autoral. Ou seja, não precisar obedecer demanda da gravadora ou alguém dizendo
para você tocar de tal jeito, vestir tal chapéu ou repetir um refrão tantas
vezes. Mas por outro lado é muito complicado lidar com isso porque a banda vira
uma empresa. Você precisar tomar conta de tudo. Eu cuido desde esse último
clipe de “Botando na caçamba” desde a produção, da equipe, da carona, até da
capa do próximo disco. É tanto trabalho que às vezes a música fica em segundo
plano. Tem muita burocracia e problema administrativo para resolver. Essa
questão da música Rua Araucária ser a abertura da série do Multishow rendeu muita
papelada de registro. Eu acho que muitas bandas vão desistindo no meio do
caminho porque isso é uma coisa chata de fazer. No fundo o que a gente quer
mesmo é tocar.
Que conselhos você dá
às bandas que estão se lançando no cenário musical independente?
O conselho que eu dou é ter paciência porque dá muito trabalho
produzir uma coisa bem feita.
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